Oi
No final do ano passado eu tive um burnout. Além de todos os sintomas físicos, eu tinha uma dor na lombar que não passava por nada. Cheguei até a pensar que fosse por causa do meu peso, má postura, o diabo que fosse. No dia que eu pedi demissão, a dor diminuiu. No meu primeiro fim de semana “livre” eu não sabia mais o que era dor. E nunca mais tive. Um ano depois e só tive dor na lombar uma vez que passei o dia em pé. Fim.
Ontem eu estava relativamente tranquila, depois de mais de um mês com crise de ansiedade, sempre nervosa, sempre cansada. Fui fazer almoço e bastou uma mensagem de whatsapp pra me fazer cair no choro. Sabe aquela cena clichê de chorar apoiada na pia até faltar o ar? Então, foi assim. Aí paro de chorar, pego o celular de novo, um BO de mercado para resolver, possivelmente eu teria perdido dinheiro.
Aí veio a chave de ouro: me sentir deixada de lado. Eu sempre sonhei em ser prioridade na vida de alguém, mas nessa altura da vida, eu só quero ser respeitada e quero que compartilhem as minhas alegrias. E nem isso rola. Eu estou realmente cansada desses relacionamentos passageiros, dessa emoção exacerbada ou da completa falta de interesse. Será que não existe mais um meio termo?
Depois dessa choradeira toda, meu estômago começou a doer e está doendo até agora. Incrível como meu corpo sempre reage a essas crises. Lembro uma vez que eu chorei tanto numa crise que me atacou a sinusite. A pessoa não pode nem ter uma crisezinha em paz. Mas enfim, tomei meu café porque sim, café me faz feliz, me dá um abraço.
Semana que vem é minha última sessão de terapia do ano, depois a minha psicóloga entra em recesso e eu já estou naquela sensação de “agora é cada um por si” e correndo em círculos num ambiente incendiado que é meu querido cérebro. Estou com a medicação dobrada, levemente mais calma, mas queria estar me sentindo em uma brochura de Testemunha de Jeová.
Para lidar com o fim de ano, fiz algo que não fazia há muito tempo: maratonei séries. What we do in the shadows e Our flag means death. Zero ranço de Taika Waititi de pirata, inclusive queria muito. E da série dos vampiros, eu amo o Laszlo, aquele senso de humor completamente torto e cheio de piadinhas de duplo sentido é tudo para mim.
Hoje terminei de ler A história do ladrão de corpos, da Anne Rice. Até comentei ontem no Instagram que meu cérebro estava liso tal qual um escorregador. História sem sentido, sem fundamento, sem nada, e eu amo. Agora estou aqui brincando de encher carrinho da Amazon e do Estante Virtual com os livros dela que faltam na minha coleção. Claramente não tenho dinheiro e estou fazendo isso à toa.
Ano que vem meu melhor amigo vai passar dois meses fora do Brasil e eu já estou ansiosa por vários motivos. Estou muito feliz por ele, mas triste de ficar tanto tempo longe. A gente se vê no mínimo de 15 em 15 dias, falo com ele todo dia e ele é meu ponto de segurança.
Acho que escolhi essa newsletter para falar de todas as minhas fragilidades. Tem uma moça que sigo no Instagram, que está fazendo acho que doutorado, ela posta foto de planners e cadernos de estudos e eu acho tudo lindo demais. Passo horas vendo fotos de planners e cadernos. É uma parada que me acalma quase tanto quanto vídeo de gato. Enfim, ela tem TOC e fala bastante sobre isso, como afeta a vida dela. Ela fala sobre ter dias ruins, sobre estar deprimida e eu acho tão bom isso, alguém que fala abertamente das coisas complicadas que está passando.
Quando jovem, eu achava que era a única pessoa no mundo que se sentia um lixo. Uma adolescência de ansiedade, de traumas, de situações de riscos, tudo isso porque faltou um remedinho para a cabeça e uma terapia. Imagina quanta coisa teria sido evitada. E nem fico com aquele papo de “essas coisas me fizeram ser assim”. Nem fodendo, queria muito ter uma química cerebral mais equilibrada, aí não teria que lidar com essas coisas na vida adulta.
Daqui dois meses eu faço 37 anos e não imaginava que teria a vida que eu tenho. Não reclamando (mas já reclamando), eu trabalho com o que gosto, tenho meu canto, meus gatos, ótimos amigos, mas eu não imaginava que ainda teria que lidar com saúde mental. Bom, me parece que vai ser algo para o resto da vida, então é isso. Meio que já me acostumei e encontrei formas de lidar, mas no final do ano parece que fica tudo mais intenso.
Fico puta quando me falam que a mudança de calendário não vai trazer mudanças reais. Me deixa, sabe? Começar uma agenda nova me deixa feliz, começar uma lista nova de filmes assistidos, de livros lidos. Eu moro numa rua bem barulhenta, mas no dia primeiro é sempre um silêncio gostoso. Estou ansiosa por esse dia primeiro.
Não sei quando vem a próxima newsletter, pode ser semana que vem, não pretendo parar nada. Vou ter recesso de trampo, mas fora isso, quero continuar escrevendo, lendo, vendo filmes e finalmente tirar um dia para limpar todos os meus livros que estão na casa dos meus pais.
Enfim, obrigada a quem me acompanha nas 200 newsletters que já tive na vida. Obrigada por acreditarem que eu vou manter essa aqui.
Sei que fim de ano é complexo, se alguém quiser/precisar conversar, só responder esse e-mail.
Beijo
Michelle
Eu gosto muito da maneira que tu escreve <3
Fiquei meio "o quê!" quando sumiu a outra news, mas fiquei aliviada e contente que tu voltou com essa hehe
Apaguei os textos da minha (não a news inteira, ainda...), não sei se voltarei a escrever nela, mas penso se fizer textos mais despretensiosos, como cartas (ou e-mails) mesmo, acho que talvez dê mais certo, vai saber. Ando numa crise louca de escrita que não sai de mim faz uns 2 anos. Nada do que escrevo acho bom como era antes, não dá pra entender. Talvez eu devesse fazer terapia e ser medicada também, pode ser que ajude, né?
Enfim, não quero ficar aqui falando de mim rs. De novo, eu adoro a forma como tu conta as coisas que acontecem na tua vida, acho real e identificável. Amo isso nos textos :)
Até mais, Mi!