Oi,
Semana passada eu tinha começado a escrever sobre a passagem do tempo, justamente porque várias pessoas que eu acompanho estavam falando sobre. Escrevi dois parágrafos e larguei. De novo pensei em deletar esta newsletter, em fechar meu blog, em parar de usar rede social. Ontem o dia passou tão rápido. Acordei cedo, vi filme, li, cochilei, ouvi um bloquinho passando por aqui.
De manhã eu entrei no Instagram e fui acompanhar uma treta. Li milhões de comentários num post, li os posts das pessoas que estavam na treta e o que eu ganhei com isso? Uma ansiedade que não precisava existir numa manhã de domingo. Ainda mais que hoje em dia eu não tenho obrigação alguma de me posicionar sobre tretas. Até comentei que duas coisas que estou levando a sério esse ano são largar livro que não estou gostando e não emitir opinião na internet.
Larguei um livro da Donna Tartt, o segundo. Não estava ruim, mas eu não estava emocionada como A história secreta me deixou. Peguei um do King, Outsider, que traz uma personagem da trilogia policial do Bill Hodges. Estou me divertindo e alisando meu cérebro. Às vezes me pego me cobrando de ler coisas mais “sérias”. Pelo amor de deus, né? Eu sou muito trouxa.
Hoje acordei cinco e pouco e fui ver o novo episódio de True Detective. Não gostei e isso me deixou triste, porque eu achei que Jodie Foster no gelo entregaria tudo, mas não, só tem drama e carcosa baiting. Ia comentar sobre na internet, para conversar com as pessoas. Não comentei. Também não escrevi sobre filmes do momento que estão no ame ou odeie e eu odiei.
Aliás, eu odeio Carnaval e eu queria gostar. Queria me sentir feliz de sair em bloquinho, bebendo e etc, mas não. Eu fico triste e mal humorada. Em 2018 eu escrevi um texto sobre a minha solidão no Carnaval e acho que é um dos meus textos preferidos. Acho que vou resgatar ele e deixar no blog. Blog esse que eu não sei ainda se fecho.
Ah, claro, estou de TPM e no meu inferno astral, caso eu decida acreditar nisso. Não quero comemorar meus 37 anos e minha ideia para o dia é comprar umas comidinhas boas, ver um filme e ficar quieta em casa. Acho que a gente chega num ponto em que a solidão se torna confortável. Ainda não cheguei completamente nessa, mas estou perto.
Estou ouvindo Kate Bush, com vontade de ir ao cinema toda semana, de passar o sábado de uma sala para a outra, mas eu estou sem dinheiro e a cidade já está tomada pelo Carnaval.
Semana passada a terapia foi pesadíssima. Escrevi várias coisas no caderninho e depois vi que uma era consequência da outra. Tive consulta com a psiquiatra, comentei que a dose maior de remédios não estava fazendo diferença e ela “Sem eles você estaria internada”. Risos, muitos risos nervosos.
Ainda não paguei a psiquiatra porque não tenho dinheiro. Só consegui pagar as contas do mês porque rolou o saque aniversário do FGTS. Aliás, meu FGTS está cada vez mais vazio. Engraçado olhar para trás e pensar como estava a vida dos meus pais com a minha idade. Eu estou contando moedas e minha única vontade do momento é juntar dinheiro para me mudar. Quero continuar no mesmo bairro, na mesma rua, só queria um canto mais silencioso.
A gente se acostuma com qualquer merda, eu acostumei com barulho de carro, gente gritando e etc, mas tem dias que me bate um desespero leve. Ontem mesmo, antes do cochilo. Bloquinho e depois comemorações do futebol. Aí penso que quero desesperadamente estar com as pessoas, ao mesmo tempo que preciso ficar sozinha para me sentir minimamente bem.
Muitas entradas do meu diário terminam com “Queria me sentir minimamente bem”. E ando pensando muito nas coisas que James Baldwin disse e escreveu. Os livros dele me olham aqui na estante.
Beijo
Michelle
A manifestação popular que eu queria gostar mas não gosto é novela. Eu aprendi a entender que parte do meu não gostar era preconceito - elitismo, viralatismo, etc - mas mesmo assim não desenvolvi aquela coisa de querer sentar e assistir uma novela. Futebol eu gosto a cada 4 anos, na copa, e já está bom, mas para gostar um pouquinho mais eu li "Futebol, magia e um punhado de sal", e o viés fantástico com certeza ajudou. Agora o Carnaval... conceitualmente eu acho ele legal, mas não tenho vontade de participar de verdade, nem vontade de ter vontade. Fora isso, TPM é uma droga, sobre o inferno astral não posso afirmar - em teoria também estou no meu, mas não estou achando o período particularmente melhor ou pior -, mas claramente você seria beneficiada por um abraço e/ou uma comidinha gostosa. E parabéns por se manter longe de tretas, é o autocuidado mais importante da nossa era.