#12 sobre a escrita
Oi,
Ontem o B. me perguntou porque eu tinha parado de escrever sobre cinema. Não respondi porque como dizem os jovens, alugou um triplex e etc. Eu escrevo sobre cinema na internet desde o fotolog, quando eu e a M. criamos o Cine Moloko, acho que em 2004. Depois virou blog, depois eu participei dos sites dos outros, tive o Cine Varda, o 365 Filmes de Horror, passei por um monte de podcast, escrevi para livro, catálogo e etc. E parei.
Saí do Leia Mulheres e fechei meu blog pessoal, nunca mais escrevi sobre literatura. Já escrevi orelha de livro, apresentação, organizei coletânea, escrevi pra blog de editora, e parei. Nunca mais fiz uma resenha de livro também. Tenho um blog pessoal parado, que de vez em quando escrevo algo aleatório, mas a inspiração não tem batido, e muito menos a vontade. Ontem lembrei de um texto antigo que queria colocar nele. Fui colocar, e notei que meu último post também foi repost.
Eu sei de onde veio esse desânimo todo. As pessoas, sempre as pessoas. O rolê dos livros me cansou de uma forma que eu não consigo nem mensurar. Aquele monte de gente branca rica escrevendo sobre as mesmas coisas, fazendo eventos literários cheios de outras pessoas brancas ricas, falando de suas vidinhas super complicadas.
O rolê de cinema é de uma misoginia sem fim. Isso para nem citar o rolê de terror. O gênero terror já é uma parada mega hostilizada e desvalorizada, aí quando eu queria escrever algo para pensar esses filmes de outra forma, vinham os papos de “lacração”. Sem contar que um copia o outro, que copia o outro e a gente perde a noção de quem foi a ideia original.
No blog antigo eu tinha uma aba chamada CV em que eu colocava links de tudo que eu já tinha feito em termos culturais, mesas, textos, podcasts e etc. Fechei o blog e nunca mais pensei naquela lista. Hoje acordei pensando no tanto de coisa que eu fiz e eu simplesmente escondi por estar cansada. Óbvio, claro, certamente que eu não quero fazer mais nada por obrigação, mas sinto falta daquela coisa de “hum, eu deveria escrever sobre isso”.
Tentei focar na escrita de ficção e o que aconteceu? Nada. Tenho lido muitos livros sobre escrita e isso tem me dado saudade de pegar uma caneta e um caderno velho e escrever uns versinhos. Há uns anos escrevi alguns que acho que tiveram alguma utilidade. A mãe de uma amiga usou um poema meu em sala de aula e mandou vídeo dos alunos debatendo ele. Sério, isso foi a coisa mais linda que já poderia ter me acontecido.
Um monte de macho branco se sentindo importante porque escreveu uma bosta de livro publicado por editora grande, e eu não me dou ao direito de ficar feliz e até mesmo orgulhosa de uma parada bacana que eu fiz?
Enfim, 20 anos escrevendo na internet não são 20 dias. Tem bastante coisa por aí e eu vou listar tudo no meu blog. Vou me sentir feliz pelas coisas que eu realizei nesses anos todos. E quem sabe me animo a escrever de novo, compartilhar as minhas ideias.
Ah, lembrei de novo: as pessoas. Sempre elas. Você dá sua opinião sobre algo, uma coisa inocente e o mundo vira de cabeça pra baixo. Quando eu terminei de ler um livro da Lygia e postei no meu twitter dizendo que podia ser a emoção do momento, mas que aquele para mim era o melhor lixo da literatura brasileira, vocês imaginem o caos. Até xingada eu fui.
Aí me lembro que o twitter não existe mais para mim, polêmicas de sorvete também não. Então foda-se, é isso. Enquanto eu tiver uma ou duas pessoas para trocar ideia sobre as coisas, eu tô feliz.
Troquem ideia comigo.
Beijo e boa semana
Michelle B.