Ontem eu escrevi uma newsletter inteira sobre a FLIP, sobre como eu tenho sentimentos muito contrários sobre ela. Por um lado acho um lugar lindo para rever amigos, falar daquilo que amo e conhecer coisas novas. Já do outro, é um evento elitista pra caralho, que não é para todo mundo, e se não é para todo mundo, já me incomoda. Deletei. Acho que eu estava parecendo amarga demais.
Hoje retomei aqui o texto, escrevi bastante e apaguei tudo. Comecei a falar sobre como algumas pessoas me afetam, sobre como ver uma pessoa x no mercado fez eu me sentir mal e acabou com a felicidade que eu estava sentindo. Mas eu também não quero falar disso. E muito menos falar sobre como eu odeio gente emocionada e como fico me policiando para não ser emocionada, e aí fico ansiosa e etc.
Hoje é sexta-feira e está frio em São Paulo. Saí de calça e camiseta, e dei uma tremidinha. Ontem eu fui a um bar com um amigo, depois apareceu outro amigo nosso que eu não via desde antes da pandemia. Fazia tempo que eu não saía com dois homens heterossexuais que falam de coisas de homens heterossexuais.
Por incrível que pareça, me diverti horrores e fiquei muito curiosa com o mundo dos homens heterossexuais. Até bebi litros de cerveja e pela primeira vez em muito tempo eu não tive enxaqueca por causa dela. Na quarta eu também bebi outro tanto de cerveja com outra pesoa e fiquei suave.
Geralmente quando eu sento para escrever, as coisas saem todas de uma vez, sem muito esforço. O conto que escrevi para a coletânea lá foi assim. Sentei, escrevi, mandei. Mas desde ontem está particularmente difícil. Nem no meu diário eu escrevi hoje. Aliás, estou com mania de só querer escrever com caneta preta. Já quero comprar várias para o ano que vem.
Ontem eu li um livro sobre a Susan Sontag e mais uma vez me dei conta de como eu amo ler sobre a vida dos outros. A Sontag sempre me fascinou, com aquela pose de sapatão bravona, mas pelo que a Sigrid Nunez falou, ela era uma pessoa carente e que precisava da aprovação dos outros. Se a Sontag se sentia assim, quem dirá euzinha toda fodida?
Agora separei os diários dela para ler. Eu amo muito muito ler diários, autobiografias, autoficcções, qualquer coisa que seja sobre o próprio umbigo. Mas isso de forma interessante, né? Não quero mais ler homem branco falando das grandes aventuras amorosas deles com mulheres brancas magras e “doidinhas”.
Esse ano ainda vou ler um da Anne Brontë, porque esses clássicos delas enchem meu coração de paz. Também vou ler uma bagaceira natalina para papear com as minhas amigas. Aliás, eu amo decorações de Natal. Não fossem meus gatos com fogo no cu, eu decoraria a minha casa inteira. Da última vez que tentei, em dois segundos eles começaram a mastigar as luzinhas.
Amo ônibus com aquela luz neon. Lembro de uma vez que eu estava voltando do trampo, e tava tocando funk no busão, motorista e cobradora a caráter, cantando. Nessas horas eu amo demais ser brasileira. Inclusive, fiz uma playlist com as minhas músicas brasileiras do coração.
O meu gato Bela Lugosi ama que eu cante para ele. É só eu cantar que ele se joga no chão com a barriga para cima e começa a ronronar. A que mais amo cantar para ele é “Disritmia” do Martinho da Vila. Aliás, sou eternamente grata à monogamia, sem ela não teríamos canções como “Eu e ela” do Grupo Raça".
Pode parecer vulgar/Mas rolava um clima de amor/A gente falava no olhar/Sorria e zombava da dor/Uma cena de novela/Uma paixão inesperada/Ela e o namorado dela/Eu e minha namorada
Só de escrever sobre essas músicas me dá vontade de estar de chinelo, numa mesa de bar, tomando uma cervejinha. Semana passada eu estava chorando por causa do calor, irritada deitada no sofá e não querendo ver ninguém por três meses seguidos.
Nessa semana saí segunda, quarta e quinta. Amanhã vou sair de novo. Vou aproveitar a fase sociável, mesmo que eu esteja sem dinheiro e cheia de obrigações, porque é isso, só se vive uma vez. Aí semana que vem escrevo aqui sobre estar x dias sem colocar os pés na calçada.
Sabe uma coisa que eu penso bastante? Tenho medo de ser repetitiva nessas cartas, das pessoas enjoarem de me ler, de acharem a minha escrita qualquer coisa. Bom, tamo aí pra isso, né? Senão ficava só no diário.
Aliás, começou a tocar essa música agora que é bastante adequada para o conteúdo dessa carta. Falando em carta, tem tanto tempo que não recebo uma carta. Acho que a última foi num rolê amoroso super problemático, que eu claramente joguei fora.
Hoje à tarde eu abri uma caixa de perguntas nos stories, esperava curar um pouco esse meu FOMO/JOMO de não estar na FLIP, mas fiquei com medo de ser xingada e perder ainda mais do meu carisma. Aí deletei tudo e vim escrever aqui.
Agora é levar o lixo lá fora, tentar fazer algum exercício, arrumar as coisas da casa e ver um filme. Ando chata para ver filme. Nada me anima, nada me encanta. Bem chatinha eu com cólica neste dia.
Espero que vocês estejam bem. Se alguém quiser papear, só responder esse e-mail.
Beijo
Michelle